Surpreendi-me ao me dar conta de que esta já é a sétima vez que venho a Paris... em três delas, vim apaixonado... em uma vim a trabalho, na outra vim com meus pais, na sexta com amigos e nesta última vim sozinho. Cada uma única e deliciosa em seus encantos. A grande vantagem de vir mais vezes a uma cidade como Paris é não precisar mais fazer o inevitável check list das atrações turísticas... Torre Eiffel, Rio Sena, Catedral de Notre Dame, Museu do Louvre, são atrações fantásticas mas que terminam quase que se impondo como obrigações do visitante.
Agora não... não tenho mais nenhuma obrigação em Paris. Não preciso acordar cedo e pegar o metrô para cumprir aquela agenda cuidadosamente desenhada na noite anterior. Estou livre, totalmente livre, para andar onde eu quiser, ir onde quiser, sentir o que quiser. E isso significa simplesmente sentir Paris, do jeito que se apresenta. Mais do que ir a Paris, significa deixar Paris vir a mim, se é que isso não é muita pretensão.
Agora não... não tenho mais nenhuma obrigação em Paris. Não preciso acordar cedo e pegar o metrô para cumprir aquela agenda cuidadosamente desenhada na noite anterior. Estou livre, totalmente livre, para andar onde eu quiser, ir onde quiser, sentir o que quiser. E isso significa simplesmente sentir Paris, do jeito que se apresenta. Mais do que ir a Paris, significa deixar Paris vir a mim, se é que isso não é muita pretensão.
Pra começar, o maravilhoso metrô de Paris, que se orgulha de nunca te deixar a mais de 500 metros de qualquer ponto da cidade, é bom para te levar rapidamente a lugares distantes mas,como todo metrô, não te permite ver a cidade, o sol, as ruas, as pessoas (exceto aquelas que, sonolentas e mal humoradas, se encaminham ou voltam do trabalho ou da escola). Então, o bom agora é andar a pé e de ônibus (a moda agora em Paris é andar no super bem bolado esquema de bicicletas, mas essa fica pra uma outra vez ainda ;-). É claro que, somente no metrô, você consegue ver a faceta da cidade que vai bem além do turismo, ali está o cidadão comum, o imigrante, o legal e o clandestino, o branco, o negro, o metrô, literalmente, encerra a cidade.
Eu, que adoro um mapa, saio a pé pela cidade, sem mapa. Me perco, o que é fascinante. Também me fascino quando já não me perco e me localizo. Ao me deslocar, privilegio o ônibus. Não é tão simples quanto o metrô, tem que estudar mais, tem que perguntar, tem que olhar em volta, tem que tentar entender, mas não é isso que faz a cidade ficar mais interessante? E não é isso que te faz ir de um lugar a outro olhando a cidade, o sol, os rostos, as peles, de forma mais interessante do que enterrado no buraco do metrô?
Me lembro que, da primeira vez que vim a Paris, todos me falavam para me preparar para o mal humor do francês. Todas as piores expectativas que eu tinha foram cumpridas, mas ao menos, viajando mais tarde pelo interior, descobri que não é o francês que é mal humorado, é o parisiense. E não foram poucas as oportunidades que eles tiveram para me mostrar um pouco de seu mal humor e má vontade. Na segunda vez, vim com a mesma má vontade e percebi o mesmo mal humor. E a partir da segunda, terceira, enfim, os parisienses já não me pareciam mais tão mal humorados. Mudaram os parisienses ou mudei eu?
Bom, as mulheres parisienses não mudaram. Continuam lindas, elegantes, charmosas. As que não são lindas, não escapam de ser charmosas. Não valorizam os seios, como nos EUA, nem a bunda, como no Brasil, mas sabem como ninguém, com saltos e saias, especialmente no verão, valorizar suas pernas. E que pernas... Mas elas são como Paris. Não olham pra mim. Elas não olham pra ninguém. Andam, certas de que são lindas, elegantes e charmosas. E a nós, homens, nos cabe apenas admirá-las. Como fazemos com Paris. A única coisa que não entendo é como, sem olhos nos olhos (sim, elas nunca olham nos seus olhos), acontecem os grandes encontros daqueles filmes franceses que tanto povoaram minhas fantasias.
Paris tem séculos de vida, de história, de cultura... Acho que é mais fácil eu mudar e compreender Paris do que ela se ajustar a mim. E Paris vale a pena. Eles são mal humorados, são pouco higiênicos, muitas coisas não funcionam bem, mas Paris é Paris, e não é à toa que estou aqui pela sétima vez. A cidade é linda, cada esquina exala história, cultura, sabores, cheiros, sentimentos. Paris é uma cidade completa na estimulação de cada sentido.
Já pouco olho o guia ou o mapa para saber onde ir, o que comer, o que fazer. Não estou em busca daquele “lugarzinho” recomendado pelos amigos e pelos guias. Sigo o fluxo, olho para as carinhas de felizes (ou infelizes) comensais, antes de escolher onde vou comer. Entro no que parece ser bom, ainda que possa não ser (é raro, mas acontece!). Arrisco mais e mais meu francês de segundo grau. Passeio por lugares menos turísticos e mais parisienses. Eu, que adoro fotos, já não tiro fotos, apenas olho, guardo na memória. Não preciso mais provar a mim mesmo que estive aqui.
E tudo isso me faz sentir Paris de uma forma diferente, nova, mas sempre igualmente fascinante, arrebatadora, apaixonante. É, de fato, uma cidade para se vir quantas vezes se puder. Ela continuará te esnobando, sem olhar pra você, mas, mesmo assim (ou por causa disso mesmo), não tenho como não continuar apaixonado por ela.
9 comentários:
Ei menino, que lindos textos. Amei! Recebi os dois de maneira corrida e fui direto de um para o outro, pensando, puxa, será o o proxímo será tão bom? E foi. Você escreve muito bem, sabia? Principalmente quando carrega a criança interior na viagem ;-). Beijo.
Oi Fernando,
Que linda foto de abertura! Gostaria de dizer tanta coisa sobre suas viagens...na verdade, ao ler sobre os seus "retratos" de viagem, sinto-me plenamente em Paris ou na Serra do Cipó, talvez até pq unca gostei tanto de viajar assim, principalmente pelo medo de avião, então, ler você já me remete a esses lugares que, provavelmente, não irei conhecer jamais. Aliás, a literatura (de viagem ou não) sempre foi o meu veículo pra "conhecer" um monte de lugares!!!
Quanto a K.Perry, já conhecia, afinal tenho uma filha adolescente, mas a gente já gostou de tanta porcaria que assistir a um show pop não nos tira a identidade, né? É até legal pra gente sair desse salto alto por gostar de mpb,blues, jazz e essas coisas todas que às vezes nos faz pensar que somos "superiores".
A sua foto da Serra do Cipó tá perfeita, a mais linda de todas... e você continua um charme! beijo, Tita
Fernandito, minha flor de homem, há quanto tempo, rapaz?
Tão embevecido fiquei com minha experiência blogueira que somente hoje pus-me a ler suas lorotas. Esta -a de Paris - foi a primeira, e está muito boa. Não tenho seu calibre (ui) para ter estado lá tantas vezes, mas na única em que estive, curti muito do que você descreve. Até já me esqueci de Notre Dame, mas nunca daquelas pernas... Ah, que pernas as das francesinhas!
Abração do Maltrapa
Que texto gostoso tio, adorei ver como você já está um pouco mais parisiense!! Te amo muito!!! Beijo!
Fernandinho, como vc está sofisticado. Adorei esta história de "minha sétima viagem a Paris". Bem blasé, bem parisiense, mas acho tb que é pra dar mais inveja no João Sassi...Agora, esta conversa de que as parisienses nem te olham, creio ter visto nisto um endereço certo: é para as mulheres daqui ficarem loucar pra te consolar de tamanho e tão injusto desprezo. Como vê, sou dos (as) poucos comentaristas aqui neste seu blog que te conhece bem! Beijo, Maristela
Oi, Fernando!! De molho em casa, ordens médicas, complicações de gripe suína diagnosticada com quase um mês de atraso... coisa chata e demorada de passar... antibióticos pra escapar da pneumonia e... lá vou eu procurar coisa interessante pra ocupar minha semana de licença. Finalmente reservei o tempo precioso pra ler teu blog... Por que não passei por aqui antes? Paris por sete vezes... hummm... fez-me encarar minha inércia... trauma do atentado no metrô, em julho de 95. De raspão... Nada que justifique, tsc, tsc... Inspirador o seu texto!!! Convencida de que o próximo ponto no meu mapa deva passar por ali... Dá bola pras francesas não... empáfia não enche coração de ninguém. Um bando de solitárias... Saudadesssss!!!
Oi, Fernando!! De molho em casa, ordens médicas, complicações de gripe suína diagnosticada com quase um mês de atraso... coisa chata e demorada de passar... antibióticos pra escapar da pneumonia e... lá vou eu procurar coisa interessante pra ocupar minha semana de licença. Finalmente reservei o tempo precioso pra ler teu blog... Por que não passei por aqui antes? Paris por sete vezes... hummm... fez-me encarar minha inércia... trauma do atentado no metrô, em julho de 95. De raspão... Nada que justifique, tsc, tsc... Inspirador o seu texto!!! Convencida de que o próximo ponto no meu mapa deva passar por ali... Dá bola pras francesas não... empáfia não enche coração de ninguém. Um bando de solitárias... Saudadesssss!!!
Fernando, adorei seu texto sobre Paris; encontrei alguém que retrata exatamente aquilo que sinto. Estou indo par lá na minha quinta vez e pretendo fazer isto que vc fez, deixar acontecer.
oi Fernando!
Descobri hoje seu blog, e com muita alegria percebo que tenho muito tempo a recuperar, lendo seus maravilhosos textos. Esse de Paris está o máximo, parabéns. Sinto Paris como uma segunda cidade natal (a primeira é Brasilia, São Pauo, onde nasci, é só a terceira).
Por favor, continue escrevendo. Nós nos conhecemos há muito tempo, mas só te descobri hoje.Um beijo,
Giselle
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