24 de junho de 2009

De Aiuruoca para Paris


É interessante sair de Minas Gerais, visitando a Serra do Cipó e o Vale do Matutu, em Aiuruoca, e 24 horas depois estar em Paris. Lembro-me de uma amiga que me dizia que eu era igualmente feliz tanto na Chapada dos Veadeiros quanto em Londres. E foi assim que me senti nessa transição de férias tão insólita quanto instigante, com todas as possíveis divergências e convergências entre os dois destinos.

Saí do Brasil poucos dias depois do trágico acidente com o vôo da Air France, que ia do Rio para Paris. Embora as lembranças nesses casos sejam inevitáveis, não tive nenhum tipo de insegurança ao embarcar no avião. Meu medo de viajar existe, sim, mas não está no avião, está nas estradas brasileiras, essas sim, fontes de estresse, de perigo, de risco. Essas me provocam tensões, dores musculares, dores de cabeça. No avião, é o tempo de entrar e sair dele, e uma turbulência no máximo incomoda a leitura durante o vôo. Ponto para Paris.

Já nos respectivos destinos, na Serra do Cipó ou em Aiuruoca é o carro, é o 4x4 que me move, me leva por terras, matos, fronteiras, lugares pouco navegados. Eu faço a rota. Em Paris, é o ônibus, o metrô, que me conduz por ruas e avenidas ao mesmo tempo lindas e congestionadas. As rotas já existem, eu não as faço. Ponto para Aiuruoca. Mas, no fim, em ambos os destinos, são os pés que me guiam, que me levam, que me fazem achar o caminho mais bonito, mais deserto, mais original. Andei muito, as pernas cansam muito, tanto em Aiuruoca quanto em Paris.

E a comida? Serra do Cipó e Aiuruoca são Minas, Paris é França. A comida é diferente em Minas e em Paris, mas em ambas é parte inseparável da cultura e do modo de viver dos dois lugares, onde comer não é apenas para matar a fome. Numa, o feijão tropeiro, o arroz, o bife, a galinha ensopada, o queijo quente, a goiabada com queijo Minas, a batata frita. Na outra, o entrecôte, o gigot d’agneau, o patê de lapin, o panini com queijo Brie, o creme brulée, a batata frita (essa última é universal, mas boa mesmo é a do McDonald’s ;-). Numa, a casa da Dona Neuza, na outra, o Café de La Paix. Tudo diferente, mas tudo bom, comer é um grande prazer. E comida leva ao vinho. Em Minas, é inverno... o tempo convida ao vinho. Em Paris, bem... em Paris, tudo convida ao vinho, sempre... E o vinho é um grande prazer... para o corpo e para a alma.

Em Aiuruoca, o Vale do Matutu, tudo é remoto, deserto, vazio (de gente, quero dizer). Estradas de difícil acesso, comunidades pouco povoadas, baixa estação. Em Paris, nada mais urbano e metropolitano, o mundo inteiro está ali, o verão chega e convida a viver a cidade. A vida, em suas diferentes nuances, pulsa nas duas. Ambas são vastas, grandes, ambas convidam à descoberta.
Mas nem tudo é igual. Minas te acolhe, protege, é familiar; Paris te esnoba, te expõe, é estranha, é estrangeira. São duas lindas damas, mas Paris te é indiferente, ali você é apenas mais um a admirá-la, mas ela não te nota e nem você entende o que ela diz. Aiuruoca parece estar tão feliz quanto você pelo fato de você estar ali, e você entende isso, tanto na palavra quanto no olhar. São duas lindas damas, mas uma não te olha nos olhos. A outra te olha nos olhos e ainda diz “olha moço, você bem que dá um bom caldo, viu?” (deliciosa frase ouvida de uma atendente num posto de gasolina nas proximidades de Aiuruoca). 10 x 0 pra Aiuruoca!

3 comentários:

Anônimo disse...

Nós, Mineiras, temos um excelente instinto... Além de extraordinário bom gosto!!!....E ainda batemos um bolão!!!!
Chute muiiiiiiito bem dado....Golaço da “moça do posto”.
Com todo respeito é claro....

Abraço Super Poderoso, p você

Nálu Nogueira disse...

Olha, moço, eu concordo: caldo grosso! Beijocas, amoreco!

Unknown disse...

Fernandinho,

Muito boa esta crônica das duas cidades, mas não posso deixar de notar que vc roda, roda, fala coisas interessantíssimas, mas, de fato, só pensa naquilo.