20 de dezembro de 2005

Montreal, Canadá - Dezembro de 2005

Montreal, Canadá, Dezembro... Tá frio aqui... muito frio. Um frio que eu ainda não havia conhecido, nem mesmo nos morros cobertos de neve por onde já andei caminhando. Um frio que te faz precisar de informações para tomar decisões sobre o seu dia. Um frio que dá até pra entender aquela mania norte-americana de não fazer nada sem antes olhar a meteorologia. Na hora em que escrevo, às 9 da manhã, o termômetro registra 12 graus negativos. E a tal da sensação térmica, que é uma medida que junta a temperatura e o vento pra dizer quanto que na verdade tá parecendo, é de 18 graus negativos.

Está na hora de sair pro Centro de Convenções, que fica a apenas 5 minutos daqui, caminhando. Perto o suficiente para nenhum taxista querer te levar numa corrida de não mais do que 2 minutos - ou levar com muita má vontade. Mas longe o suficiente para caminhar a 12 graus negativos. E se, no meio do caminho, vc encontra um sinal fechado, esses dois minutos até que se abra novamente são intermináveis.

A grande vantagem do frio é que eu fico bonito... muito bonito. Quando coloco o meu cachecol, o meu pulôver, o meu sobretudo, me olho no espelho e pergunto “espelho, espelho meu, existe alguém mais gostoso, bonito e elegante do que eu?”... o espelho fica embasbacado, sem resposta, sem palavras... mas isso é porque o espelho não consegue ver que, por baixo disso tudo, ainda vai uma ceroula, um camisetão e uma meia bem grossa, tudo sem charme algum. O espelho também não vê quando, já na rua, coloco a luva e a touquinha que me fazem parecer um marginal decadente de 3a categoria...

Mas a inevitável pergunta é: como um povo vive num país em que essa temperatura não é exceção, é quase regra? Naturalmente, eles se adaptam. Montreal tem uma extensa rede de galerias subterrâneas, verdadeiros shopping centers por baixo da terra, por onde as pessoas circulam. Não é à toa que não se vê quase ninguém nas ruas, tá todo mundo enterrado. Além disso, os hotéis, centros de conferência, restaurantes, bares, tudo que é fechado, tem sistemas de aquecimento altamente eficientes. O resultado prático disso é que quando você sai da rua e entra num desses lugares, começa um verdadeiro strip tease... tira a touca, tira as luvas, tira o cachecol, tira o pulôver, e assim vai tirando... numa dessas situações, o restaurante estava tão quente que tive que ir ao banheiro tirar o ceroulão que já tava me assando.

O mais interessante é olhar o sol brilhando pela janela. É quase com ingenuidade que eu olho prá fora e fico com vontade de sair andando pelas ruas... impossível entender como um sol lindo daquele convive com uma temperatura de 12 graus negativos. Peguei pouca neve até agora. Neve é aquela coisa que a gente acha linda quando vê cair pela janela, mas que na hora que você tá andando na rua, com um sapato brasileiro não preparado para ela, escorregando no chão e congelando seu pé, ela perde toda a beleza romântica dos filmes de Natal americanos, e se torna um suplício. Nada de guerrinha de bola de neve ou de bonecos de neve.

Como costuma acontecer nessas viagens a trabalho, sobre a cidade de Montreal, além dos 12 graus negativos, do hotel e do centro de conferências, pouco posso dizer. Sei que há bons restaurantes, bares de jazz, casas de show, shoppings, mas, como costuma acontecer nessas viagens, não só não há tempo para essas explorações, como o frio terrível que faz à noite, ao fim de todas as tarefas, não encoraja grandes aventuras exploratórias.

Mas isso aqui não é lugar para trabalhar. É lugar para comer bem, tomar um bom vinho, beijar na boca, comer chocolate, ler perto da lareira, dormir numa cama gostosa, tomar um banho de banheira... ou tudo isso junto, não necessariamente nessa ordem...