30 de junho de 2009

Sicília, Itália - Abril de 2009

Numa rara combinação de fatores, uma viagem de trabalho à Sicília italiana me permitiu, antes e depois da reunião, desfrutar um pouco dessa região que freqüenta minha mente desde que me entendo por gente, associada a crimes, máfia, terror, mistério, guerras, comida, vinhos, cenários. A falta de tempo fez com que eu entrasse no avião sem noção sequer de onde dormiria a primeira noite. Algumas páginas do meu guia devoradas durante o vôo me fizeram optar por dormir em Catânia, ponto de chegada do vôo, e dali fazer uma base para explorar a região.


Escolhi pela internet o que parecia ser um simpático Bed&Breakfast, Gianni & Lucia, cujo dono, Gianni, sem pressa e minuciosamente, me apresentou a região e a cidade, me deu mapas, recomendações de passeio, sugestões de restaurantes. Nada como o atendimento prive que um grande hotel não te oferece.

Catânia é considerada uma cidade grande na Sicília (300.000 habitantes) e com poucos atrativos para o viajante, mas acabou se revelando uma interessante cidade, com boas opções culturais, históricas e, também, de gastronomia. Iniciei minha estada num simpático restaurante, Il Borgo de Federico, desses bem típicos, com televisão transmitindo futebol, famílias, jovens casais, crianças, no qual exerci o delicioso prazer de observar gente enquanto experimentava o honesto ‘vinho da casa’ e uma novidade gastronômica, a carne de cavalo, prato típico da cidade, e surpreendentemente suculenta, macia e saborosa. Voltei caminhando para o hotel, não sem antes parar numa das muitas e esteticamente atraentes confeitarias da cidade para experimentar outra especialidade local, o delicioso canolli de ricota, uma espécie de biscoito recheado de uma pasta de ricota com pistache.

Para mim, a principal razão de ficar em Catânia era explorar a região em volta, mas principalmente, fazer uma expedição ao vulcão Etna, o maior vulcão em atividade do planeta (3400m) e, em constante erupção, cenário de tantos eventos trágicos e visualmente impactantes nas muitas cidades construídas no seu entorno. No entanto, descobri, frustrado, que eu não havia combinado meus dias de folga com a natureza, de forma que por dois dias fiquei em Catânia esperando o sol abrir para que eu pudesse ver o Etna.

Por conta das nuvens, dediquei meu domingo a explorar Catânia. Catânia é uma cidade comum, e se torna interessante exatamente por isso. Gente ordinária, poucos turistas, o que torna mais agradável visitar seus restaurantes, mercados, ruas, lojas, brincando com uma língua da qual meus conhecimentos são rudimentares e, como em outras ocasiões, com outras línguas, descobrindo que consigo comer, sobreviver, locomover-me, hospedar-me. É fascinante, ainda que às vezes estressante, estar num lugar sem falar nada da língua local, ainda que o italiano pareça muito semelhante, e às vezes dependendo da generosa ajuda de algum anjo da guarda que chega num momento de apuro, e que arranha o inglês ou outra língua qualquer mais conhecida. Mesmo com anjos da guarda, porém, freqüentemente se perde uma informação, uma sugestão, uma direção, uma piada, uma dica.

Catânia no domingo é uma cidade morta. Ruas vazias, comércio fechado, pouca gente circulando, o que torna a cidade propícia para explorar com calma suas muitas praças e construções históricas. Vez por outra me sentava num banco de praça e, enquanto observava o povo, lia e aprendia mais sobre o relevante papel que a Sicília teve em diversos momentos da história universal, inclusive na II Guerra Mundial. Aprendi, também, um pouco da fascinante e assustadora história da máfia na região, uma presença forte que, embora sofrendo baques recentes, continua se fazendo presente, ainda que não notada pelo viajante comum. Mas a parte mais interessante do dia foi mesmo passear pela feira de produtores orgânicos locais, onde fui tentado pela profusão de queijos, geléias, frios, vinhos, grãos e nozes ali expostos, numa degustação que acabou sendo o meu almoço.

No B&B, encontrei um simpático casal de velhinhos ingleses aposentados, que dedicam seu tempo livre a viajar pelo mundo. Estavam agora explorando a Sicília e trocamos sugestões e recomendações do que já tínhamos lido e visto. Nessas importantes trocas que acontecem numa viagem, o interessante é ouvir e captar todas as recomendações e sugestões, mas nunca deixar de fazer sua própria viagem, com seu próprio olhar e sentimento. Porque o que torna cada lugar interessante, ou não, é exatamente o olhar, o momento, a emoção que se vive naquela hora, e isso é sempre único para cada pessoa, razão por que não faz sentido querer repetir “aquela maravilhosa” viagem que alguém nos descreveu.

Mesmo com as pesadas nuvens, não resisti a fazer uma viagem ao Etna, optando pela CIRCUMETNEA, uma ferrovia que, ao longo de 110 km, vai contornando o Etna e parando em diversas cidadezinhas locais. Supostamente, o Etna seria vislumbrado e apreciado em cada um desses 110 km, mas o que vi mesmo em todo o trajeto foram nuvens, muitas nuvens. Embora o trem seja supostamente turístico, havia poucos turistas nele, que era mesmo ocupado pelos moradores locais que se deslocavam entre essas cidadezinhas, não cobertas pela rede ferroviária do estado. Numa delas, Randazzo, saltei do trem para descobrir resquícios bem vivos do período medieval, castelos, construções, pontes, igrejas. Na volta ao trem, uma parada numa lojinha de produtos típicos, onde, com muita mímica e boa vontade, consegui um delicioso sanduíche de mortadela e um copo descartável cheio do vinho local, e fui caminhando pelas ruas sob a chuva até chegar à estação de trem. Um banquete memorável.

O dia seguinte, à tarde, era o início de minha “vida oficial” na Sicília. Fui de ônibus de Catania a Siracusa, onde consegui chegar a tempo de deixar as coisas no hotel, resolver algumas pendências de trabalho e sair para passear na belíssima ilha de Ortigia, sem dúvida a parte mais interessante de Siracusa. Como costuma acontecer, lembro pouco dos detalhes que li e ouvi sobre Siracusa, mas me lembro que, pela sua localização, é uma cidade com decisivo papel em vários dos grandes momentos da história universal. Além disso, muitos filósofos dos tempos helênicos passaram por aqui.

Tudo isso era visível e perceptível nos charmosos monumentos e ruas da cidade, algumas delas felizmente fechadas por conta da nossa reunião, nas quais pude passear praticamente sozinho (que egoísta!). Pra melhorar, nosso trabalho se realizava no antigo e belíssimo Castelo de Maniace, totalmente adaptado para a reunião. Em Ortigia, as horas vagas do trabalho me proporcionaram excelentes e charmosos restaurantes, igualmente excelentes vinhos e uma vida noturna interessante, centrada na Praça do Duomo onde duas atrações se destacavam: uma “instalação” provisória, uma mega escultura que ocupava boa parte da praça e simbolizava um homem afundando (fazia parte da mensagem ecológica presente em várias manifestações de arte previstas para o período de nossa reunião) e a igreja onde, até tarde da noite, uma romaria de admiradores tinha a chance de visitar uma bela obra de Caravaggio.
Encerrada a reunião, o roteiro escolhido foi ir de carro em direção à cidade de Taormina, famosa por sua espetacular localização no alto de uma encosta, com deslumbrantes vistas para o mar. Um lugar como esse merecia uma escolha de hospedagem à altura, e ali não faltam hotéis de charme. A escolha foi sobre o fantástico Hotel Villa Ducale (http://www.villaducale.com/), altamente charmoso, elegante, acolhedor, sofisticado, mas sem afetação nem esnobismo. Todos os poucos quartos são brindados com magníficas varandas e o café da manha é servido num terraço com as mais belas vistas que se poderia ter da cidade. Lugar para ficar uma semana e esquecer do mundo. Não é um hotel que eu descreveria como “baratinho”mas definitivamente vale cada Euro pago. Como vantagem adicional, o hotel fica a meio caminho entre Taormina e Castemola, um pequeno e menos conhecido vilarejo incrustado deliciosamente acima de Taormina, com vistas ainda mais fabulosas da própria Taormina e do mar abaixo.

Taormina seria apenas uma cidadezinha italiana qualquer não tivesse sido construída onde foi. Teatros gregos são comuns em todas as cidades por onde andaram esses povos (e não são poucos), mas duvido que algum tenha sido construído num penhasco com vistas tão espetaculares para o mar. Fiquei a imaginar o que deve ser um show num lugar desse, onde o palco disputa a atenção com as vistas do mar e do vulcão Etna ao fundo.

E por falar em Etna, saio da Sicília com a frustração de não vê-lo, quase com a certeza de que esse vulcão não existe. Depois de andar 110 km de trem para ver o Etna e de me hospedar em Taormina num dos mais privilegiados pontos de visualização do vulcão, não tive sequer esboço do grande vulcão.

Isso me faz lembrar das estórias que ouço e das viagens que já fiz, para as quais existe antecipadamente a expectativa de uma vista, de uma fotografia, de um monumento, de um cenário… A frustração é inevitável quando se depende da indomável e imprevisível natureza, ou dos dias de abertura de um museu, de uma doença no dia exato da visita. Qualquer dessas coisas pode ser a diferença entre ver ou não ver o Etna, deslumbrar-se ou não com a visão de Macchu Picchu a partir da Porta do Sol, enxergar ou não o por do sol nas dunas de areia da Índia, admirar ou não a arquitetura de Québec, só pra citar algumas frustrações já vividas. Isso tudo para não falar de como uma diarréia pôde me impedir de admirar o Taj Mahal com a grandeza que ele merece.

Como não ver o Etna não foi a primeira expectativa frustrada numa viagem, isso não me estragou o prazer de estar por ali, até mesmo porque descobri, depois, que a Sicília é muito mais do que o Etna. Numa viagem, nem sempre se encontra o que se foi buscar, e estar aberto e receptivo a isso é um dos grandes segredos de bem viajar. Até mesmo porque, com frequência, o que se encontra é mais fascinante do que aquilo que fomos buscar.

24 de junho de 2009

Uma Nova Janela para Paris


Surpreendi-me ao me dar conta de que esta já é a sétima vez que venho a Paris... em três delas, vim apaixonado... em uma vim a trabalho, na outra vim com meus pais, na sexta com amigos e nesta última vim sozinho. Cada uma única e deliciosa em seus encantos. A grande vantagem de vir mais vezes a uma cidade como Paris é não precisar mais fazer o inevitável check list das atrações turísticas... Torre Eiffel, Rio Sena, Catedral de Notre Dame, Museu do Louvre, são atrações fantásticas mas que terminam quase que se impondo como obrigações do visitante.
Agora não... não tenho mais nenhuma obrigação em Paris. Não preciso acordar cedo e pegar o metrô para cumprir aquela agenda cuidadosamente desenhada na noite anterior. Estou livre, totalmente livre, para andar onde eu quiser, ir onde quiser, sentir o que quiser. E isso significa simplesmente sentir Paris, do jeito que se apresenta. Mais do que ir a Paris, significa deixar Paris vir a mim, se é que isso não é muita pretensão.

Pra começar, o maravilhoso metrô de Paris, que se orgulha de nunca te deixar a mais de 500 metros de qualquer ponto da cidade, é bom para te levar rapidamente a lugares distantes mas,como todo metrô, não te permite ver a cidade, o sol, as ruas, as pessoas (exceto aquelas que, sonolentas e mal humoradas, se encaminham ou voltam do trabalho ou da escola). Então, o bom agora é andar a pé e de ônibus (a moda agora em Paris é andar no super bem bolado esquema de bicicletas, mas essa fica pra uma outra vez ainda ;-). É claro que, somente no metrô, você consegue ver a faceta da cidade que vai bem além do turismo, ali está o cidadão comum, o imigrante, o legal e o clandestino, o branco, o negro, o metrô, literalmente, encerra a cidade.

Eu, que adoro um mapa, saio a pé pela cidade, sem mapa. Me perco, o que é fascinante. Também me fascino quando já não me perco e me localizo. Ao me deslocar, privilegio o ônibus. Não é tão simples quanto o metrô, tem que estudar mais, tem que perguntar, tem que olhar em volta, tem que tentar entender, mas não é isso que faz a cidade ficar mais interessante? E não é isso que te faz ir de um lugar a outro olhando a cidade, o sol, os rostos, as peles, de forma mais interessante do que enterrado no buraco do metrô?
Me lembro que, da primeira vez que vim a Paris, todos me falavam para me preparar para o mal humor do francês. Todas as piores expectativas que eu tinha foram cumpridas, mas ao menos, viajando mais tarde pelo interior, descobri que não é o francês que é mal humorado, é o parisiense. E não foram poucas as oportunidades que eles tiveram para me mostrar um pouco de seu mal humor e má vontade. Na segunda vez, vim com a mesma má vontade e percebi o mesmo mal humor. E a partir da segunda, terceira, enfim, os parisienses já não me pareciam mais tão mal humorados. Mudaram os parisienses ou mudei eu?

Bom, as mulheres parisienses não mudaram. Continuam lindas, elegantes, charmosas. As que não são lindas, não escapam de ser charmosas. Não valorizam os seios, como nos EUA, nem a bunda, como no Brasil, mas sabem como ninguém, com saltos e saias, especialmente no verão, valorizar suas pernas. E que pernas... Mas elas são como Paris. Não olham pra mim. Elas não olham pra ninguém. Andam, certas de que são lindas, elegantes e charmosas. E a nós, homens, nos cabe apenas admirá-las. Como fazemos com Paris. A única coisa que não entendo é como, sem olhos nos olhos (sim, elas nunca olham nos seus olhos), acontecem os grandes encontros daqueles filmes franceses que tanto povoaram minhas fantasias.
Paris tem séculos de vida, de história, de cultura... Acho que é mais fácil eu mudar e compreender Paris do que ela se ajustar a mim. E Paris vale a pena. Eles são mal humorados, são pouco higiênicos, muitas coisas não funcionam bem, mas Paris é Paris, e não é à toa que estou aqui pela sétima vez. A cidade é linda, cada esquina exala história, cultura, sabores, cheiros, sentimentos. Paris é uma cidade completa na estimulação de cada sentido.

Já pouco olho o guia ou o mapa para saber onde ir, o que comer, o que fazer. Não estou em busca daquele “lugarzinho” recomendado pelos amigos e pelos guias. Sigo o fluxo, olho para as carinhas de felizes (ou infelizes) comensais, antes de escolher onde vou comer. Entro no que parece ser bom, ainda que possa não ser (é raro, mas acontece!). Arrisco mais e mais meu francês de segundo grau. Passeio por lugares menos turísticos e mais parisienses. Eu, que adoro fotos, já não tiro fotos, apenas olho, guardo na memória. Não preciso mais provar a mim mesmo que estive aqui.

E tudo isso me faz sentir Paris de uma forma diferente, nova, mas sempre igualmente fascinante, arrebatadora, apaixonante. É, de fato, uma cidade para se vir quantas vezes se puder. Ela continuará te esnobando, sem olhar pra você, mas, mesmo assim (ou por causa disso mesmo), não tenho como não continuar apaixonado por ela.

De Aiuruoca para Paris


É interessante sair de Minas Gerais, visitando a Serra do Cipó e o Vale do Matutu, em Aiuruoca, e 24 horas depois estar em Paris. Lembro-me de uma amiga que me dizia que eu era igualmente feliz tanto na Chapada dos Veadeiros quanto em Londres. E foi assim que me senti nessa transição de férias tão insólita quanto instigante, com todas as possíveis divergências e convergências entre os dois destinos.

Saí do Brasil poucos dias depois do trágico acidente com o vôo da Air France, que ia do Rio para Paris. Embora as lembranças nesses casos sejam inevitáveis, não tive nenhum tipo de insegurança ao embarcar no avião. Meu medo de viajar existe, sim, mas não está no avião, está nas estradas brasileiras, essas sim, fontes de estresse, de perigo, de risco. Essas me provocam tensões, dores musculares, dores de cabeça. No avião, é o tempo de entrar e sair dele, e uma turbulência no máximo incomoda a leitura durante o vôo. Ponto para Paris.

Já nos respectivos destinos, na Serra do Cipó ou em Aiuruoca é o carro, é o 4x4 que me move, me leva por terras, matos, fronteiras, lugares pouco navegados. Eu faço a rota. Em Paris, é o ônibus, o metrô, que me conduz por ruas e avenidas ao mesmo tempo lindas e congestionadas. As rotas já existem, eu não as faço. Ponto para Aiuruoca. Mas, no fim, em ambos os destinos, são os pés que me guiam, que me levam, que me fazem achar o caminho mais bonito, mais deserto, mais original. Andei muito, as pernas cansam muito, tanto em Aiuruoca quanto em Paris.

E a comida? Serra do Cipó e Aiuruoca são Minas, Paris é França. A comida é diferente em Minas e em Paris, mas em ambas é parte inseparável da cultura e do modo de viver dos dois lugares, onde comer não é apenas para matar a fome. Numa, o feijão tropeiro, o arroz, o bife, a galinha ensopada, o queijo quente, a goiabada com queijo Minas, a batata frita. Na outra, o entrecôte, o gigot d’agneau, o patê de lapin, o panini com queijo Brie, o creme brulée, a batata frita (essa última é universal, mas boa mesmo é a do McDonald’s ;-). Numa, a casa da Dona Neuza, na outra, o Café de La Paix. Tudo diferente, mas tudo bom, comer é um grande prazer. E comida leva ao vinho. Em Minas, é inverno... o tempo convida ao vinho. Em Paris, bem... em Paris, tudo convida ao vinho, sempre... E o vinho é um grande prazer... para o corpo e para a alma.

Em Aiuruoca, o Vale do Matutu, tudo é remoto, deserto, vazio (de gente, quero dizer). Estradas de difícil acesso, comunidades pouco povoadas, baixa estação. Em Paris, nada mais urbano e metropolitano, o mundo inteiro está ali, o verão chega e convida a viver a cidade. A vida, em suas diferentes nuances, pulsa nas duas. Ambas são vastas, grandes, ambas convidam à descoberta.
Mas nem tudo é igual. Minas te acolhe, protege, é familiar; Paris te esnoba, te expõe, é estranha, é estrangeira. São duas lindas damas, mas Paris te é indiferente, ali você é apenas mais um a admirá-la, mas ela não te nota e nem você entende o que ela diz. Aiuruoca parece estar tão feliz quanto você pelo fato de você estar ali, e você entende isso, tanto na palavra quanto no olhar. São duas lindas damas, mas uma não te olha nos olhos. A outra te olha nos olhos e ainda diz “olha moço, você bem que dá um bom caldo, viu?” (deliciosa frase ouvida de uma atendente num posto de gasolina nas proximidades de Aiuruoca). 10 x 0 pra Aiuruoca!

16 de junho de 2009

Katy Perry em Paris


No primeiro dia de minhas férias em Paris, e estando hospedado em sua casa, só mesmo meu amigo Shazzan para me fazer ir a um show de Katy Perry em Paris. Se você não sabe quem é Katy Perry, não se preocupe, eu também só fiquei sabendo hoje, quando ele me disse que haveria um show dela no famoso teatro Olympia, palco, há mais de 100 anos, de grandes nomes da música mundial como Edith Piaf, Louis Armstrong, Elis Regina, Aretha Franklin, Beatles, Tina Turner, entre outros. Quando ele me convidou, eu bem que me lembrei, preocupado, de que, na hora em que saí hoje de manhã, havia uma fila de adolescentes em frente ao teatro e eu pensei que algo do tipo Menudos deveria estar se apresentando, embora aqueles adolescentes sequer tenham idéia do que venham a ter sido os Menudos (sorte deles!).


E lá fomos nós pro Olympia, comprar ingresso de cambista, e adentrar o imenso salão vermelho característico do lugar, com um copão de cerveja na mão, que ficamos tomando em pé enquanto aguardávamos o show por mais de uma hora (sim, os shows são assistidos em pé). Em volta, eu olhava e tinha a certeza de que não havia uma alma viva mais jovem do que nós. A grande maioria na mesma faixa de idade da cantora, vinte e poucos anos. Na entrada da cantora no palco, os indefectíveis gritinhos e pulinhos, a que assisti com a paciência de quem leva a filha adolescente a um show desse (bem, na verdade, duvido que alguma adolescente aceite a companhia do pai num show desse!).

Eu me divertia muito observando os gestos, coreografias e falas da moça, enquanto observava o cenário, composto por gansos e um enorme coração cor de rosa, músicos vestidos de terno cor de rosa. Assistia a tudo com os inevitáveis passinhos de quem segue o ritmo da música, e com tentativas nem sempre bem sucedidas de me desviar das criancinhas colocadas sobre o pescoço dos pais para poderem enxergar melhor o palco. Assistia a tudo com o olhar distante de quem não pertence àquele ambiente até o momento em que, após uma tosca coreografia em que um palhaço vestido de carteiro entra no palco para entregar uma carta à cantora e ela solta, então, a música, Mr. Postman, grande hit dos Carpenters na década de 70. Nessa hora, enquanto eu batia os pezinhos mais animadinho, pude prestar mais atenção e vi alguns marmanjos também se soltando e traindo a idade.


Outro que traiu a idade foi o sujeito que acendeu um isqueiro e o levantou durante o show. Lembrei-me dos shows a que eu ia quando jovem, e o grande momento de emoção era o acender de isqueiros ou fósforos por grande parte da platéia na escuridão, o que produzia um fantástico efeito luminoso. No show de Katy Perry, porém, o grande efeito luminoso era dos milhares de aparelhos celulares que eram levantados para tentar captar a melhor imagem da mocinha.


O show terminou com o grande hit I Kissed a Girl (“Eu Beijei uma Garota”), o que produziu frisson comparável ao que vi, no Brasil, com as meninas que assistiam, nas primeiras filas, aos shows de Zélia Duncan e Cássia Eller (http://www.youtube.com/watch?v=DLt5n0auPwM para quem quiser conhecer I Kissed a Girl).


Chegando em casa, fui investigar melhor o fenômeno e descobri que Katy Perry foi lançada ao estrelato há um ano atrás, depois dos elogios que Madonna fez à música que a cantora fez avacalhando um namorado que lhe deu um pé na bunda (“Ur so Gay”, ou “Você é tão Gay”). Nao há muito mais o que saber de uma carreira de apenas um ano, mas para quem quiser conhecer mais, tem até um site de Katy Perry no Brasil (http://www.katyperry.com.br/).


Enquanto isso, vou dormir pensando no que Edith Piaf, Aretha Franklin e Elis Regina devem estar sentindo ao serem colocadas, junto com Katy Perry, no rol das grandes damas que pisaram o palco do Olympia.