4 de julho de 2010

O Perigo de Uma História Única

Uma amiga querida, Dora, me enviou hoje o link para um vídeo da escritora nigeriana Chimamanda Adichi (da qual eu nunca tinha ouvido falar até hoje), em que ela fala sobre o "o perigo de uma história única". São na verdade dois vídeos, de cerca de 10 min cada, e que trazem uma belíssima reflexão sobre como os estereótipos e as imagens que temos das pessoas, dos lugares, das culturas vão se formando. Senti-me feliz pelo comentário de Dora de que o que a escritora fala tem a haver com meu blog, e por isso achei interessante partilhar aqui. A relação que Dora viu foi, provavelmente, a minha constante tentativa - nem sempre bem sucedida - de ver todas as histórias que existem por trás do mundo, das pessoas, dos lugares. Os dois vídeos estão aqui:

Chimamanda Adichi - O Perigo de Uma História Única - Primeira Parte

Chimamanda Adichi - O Perigo de Uma História Única - Segunda Parte

Ao ver os dois vídeos, lembrei-me de uma viagem que fiz ao Equador em 2002. Em um passeio à cidadezinha de Otavalo, onde se localiza um dos mais tradicionais mercados indígenas do Equador (foto à direita), conheci no trajeto um americano de uns 40-50 anos que viajava com sua filha de uns 15 anos. Começamos a conversar sobre viagens e, ao falar que era brasileiro, ele imediatamente começou a discorrer sobre futebol, Pelé, carnaval e meninos de rua ("uma história única"). Contive o meu desconforto até o momento em que, ao falar dos países por onde já viajáramos, ele elogiou o Equador, como um país exótico, e me perguntou qual o lugar mais exótico que eu já havia visitado. Respondi quase imediatamente, não foi pensado, não foi sacanagem, e disse a ele "os Estados Unidos". Ele me olhou com ar pasmo e eu expliquei a ele que o conceito de exótico, no sentido de "esquisito, excêntrico, extravagante" se aplicava, no caso de um brasileiro, mais aos Estados Unidos do que ao Equador e que, portanto, a pergunta era inadequada. Ele pareceu entender e se desculpou pela pergunta. Ficou evidente ali o "perigo de uma história única".
PS. A tempo: não estou aqui reproduzindo a 'história única' de que todos os americanos são tão alienados quanto o meu interlocutor! Conheço vários americanos decentes que sabem enxergar outras histórias além da que lhes ensinaram na televisão e na escola.