7 de julho de 1999

O carro - Julho de 1999


Vendi meu carro hoje, o meu jipinho. Um carro que não só era bonito, gostoso, confortável, valente, mas era também um símbolo de um novo estilo, de uma nova vida, de uma nova forma de ver e de explorar o mundo. Um carro que leva consigo memórias de momentos, de descobertas, de sentimentos. Que leva consigo cada cachoeira, cada estrada, cada trilha que desbravei. Que leva consigo sentimentos que experimentei. Vendi com a certeza de querer vendê-lo, de precisar vendê-lo, mas, também, com a sensação de que desfazer-me dele é mais um símbolo de um novo rito de passagem, no momento em que deixo o País para embarcar num longamente acalentado projeto acadêmico-pessoal. É boa a sensação de vendê-lo para uma amiga. Ele é simbólico demais para ficar na mão de qualquer um. Hoje eu o entreguei definitivamente. Houve um momento em que eu o vasculhava buscando as minhas coisinhas. Papéis, moedinhas, canetas, tudo que pudesse representar um pouquinho de mim que tivesse ficado ali. Procurei, procurei, mas achei pouco. De repente fui tomado de profunda emoção. Engasguei, disfarcei, e comentei com minha amiga que aquele parecia um momento de separação. Aquela hora cruel em que um dos dois dá adeus, fecha a porta e vai embora sem olhar para trás. Aquele momento me ficou. Não era o carro. O carro é apenas um objeto. Mas objetos são também símbolos poderosos. Aquele carro, ali, era também o símbolo do que estou deixando. Separar-me dele é não só deixar para trás algumas coisas, mas, também, ir em direção a outras. É uma escolha. É uma opção. E opções envolvem renúncias. Algumas fáceis, outras mais difíceis. Mas são renúncias. E foi com esse sentimento que fechei a porta, dei tchau e vi o carro se afastando... já não era mais parte de mim...