Quando cheguei a Mumbai, na Índia, para encontrar o meu amigo Steve e iniciarmos nossa viagem de quase 30 dias pela Índia, ele já estava lá e me disse que havia comprado passagens de trem para irmos a Bhuj. Eu, que havia acabado de chegar do Egito, e mal tinha tido tempo de me informar sobre o que me aguardava na Índia, perguntei a ele "e o que tem em Bhuj de interessante?". A resposta dele foi fantástica: "nada, nenhuma atração turística, apenas uma cidade comum da Índia". E para lá fomos. A cidade era tão comum que sair dela não era muito trivial. Nem todos os dias havia trem para o nosso próximos destino. E foi assim que ficamos em Bhuj por longos 5 dias, ao invés de 2 dias como inicialmente planejado. Foi uma experiencia interessante andar tanto tempo sem destino por uma cidadezinha sem maiores atrações, conhecer os lugares, conversar com as pessoas, brincar com as crianças, experimentar a comida, perceber os cheiros, respeitar as vacas, sentir a Índia. Foi um belo estágio para a viagem que se iniciava. Depois da Índia, ainda passei pela Jordânia, pelo Nepal, pela Tailândia, por Bali, por Paris e, em janeiro de 2001, viajava sozinho pela Itália. Ali fui surpreendido, no dia 26 de janeiro, data nacional da Índia, pela notícia de um grande terremoto que teve como epicentro exatamente a remota e desconhecida Bhuj. A cidade foi completamente devastada. Sua população quase totalmente destruída. O filme da estada em Bhuj começou a rodar na minha cabeça e devastado fiquei eu ao lembrar de cada pessoa, criança, vaca, rickshaw, restaurante, templo, rua, esquina de Bhuj, que tão bem me receberam na minha introdução à Índia e que, agora, já não existiam mais. Mais do que o fatalismo de pensar "puxa, eu podia estar lá agora!", o que me pegou foi lembrar das criancinhas, filhos dos donos da pousada em que nos hospedávamos, que todos os dias nos brindavam com um delicioso questionário, tão típico das crianças que lidam com o novo, o desconhecido, o estrangeiro. Elas também não existem mais...
31 de janeiro de 2001
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