24 de novembro de 2010
23 de novembro de 2010
Três Momentos em Helsinque
Momento 1
Primeira vez em Helsinque. Avião pousando às 16 horas de um dia de começo de inverno. Ainda é cedo, mas já começa a escurecer. Ainda é começo de inverno, mas a primeira neve já caiu. O avião pousa suavemente sobre a pista coberta de neve e a primeira impressão da cidade é de leveza, brancura, paz... deliciosa recepção na minha chegada!
Momento 2
Helsinque, 18 horas de sábado. É cedo, mas a noite já está bem escura. Só não mais escura porque a neve branca atenua a escuridão. As lojas já estão fechadas. Circulam poucas pessoas pela rua, todas escondidas por trás de suas roupas, muitas roupas. A cidade não é amistosa. Parece pesada, densa, escura, armada... Parece fazer sentido a chamada "depressão de inverno" (winter blues), que acomete cada vez mais pessoas, nesse período, nos países conhecidos por seus rigorosos invernos. Viver pra que?
Momento 3
Helsinque, 3a feira, 18 horas. Ao fim de um dia extenuante de trabalho, a informação de que sobrara um convite para o jogo de hockey sobre gelo. Cansado, mas a oportunidade de uma experiência tipicamente finlandesa é irresistivelmente atraente. O trajeto de carro sobre a neve, a caminhada do carro até o estádio caminhando sobre a neve, o estádio coberto e aquecido, o esporte com regras incompreensíveis, a pancadaria comendo solta como se nada estivesse acontecendo, a delicadeza de brutamontes que se equilibram no gelo e conduzem um pequeno disco com habilidade ao mesmo tempo em que enchem de porrada os adversários... tudo é novo, tudo é desconhecido, tudo é encantamento...
Primeira vez em Helsinque. Avião pousando às 16 horas de um dia de começo de inverno. Ainda é cedo, mas já começa a escurecer. Ainda é começo de inverno, mas a primeira neve já caiu. O avião pousa suavemente sobre a pista coberta de neve e a primeira impressão da cidade é de leveza, brancura, paz... deliciosa recepção na minha chegada!
Cemitério de Helsinki |
Helsinque, 18 horas de sábado. É cedo, mas a noite já está bem escura. Só não mais escura porque a neve branca atenua a escuridão. As lojas já estão fechadas. Circulam poucas pessoas pela rua, todas escondidas por trás de suas roupas, muitas roupas. A cidade não é amistosa. Parece pesada, densa, escura, armada... Parece fazer sentido a chamada "depressão de inverno" (winter blues), que acomete cada vez mais pessoas, nesse período, nos países conhecidos por seus rigorosos invernos. Viver pra que?
Momento 3
Helsinque, 3a feira, 18 horas. Ao fim de um dia extenuante de trabalho, a informação de que sobrara um convite para o jogo de hockey sobre gelo. Cansado, mas a oportunidade de uma experiência tipicamente finlandesa é irresistivelmente atraente. O trajeto de carro sobre a neve, a caminhada do carro até o estádio caminhando sobre a neve, o estádio coberto e aquecido, o esporte com regras incompreensíveis, a pancadaria comendo solta como se nada estivesse acontecendo, a delicadeza de brutamontes que se equilibram no gelo e conduzem um pequeno disco com habilidade ao mesmo tempo em que enchem de porrada os adversários... tudo é novo, tudo é desconhecido, tudo é encantamento...
"Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo..." Fernando Pessoa, O Guardador de Rebanhos
6 de setembro de 2010
Um momento de prazer em Oslo, Noruega - Setembro de 2010
Não é onde eu queria estar agora. É uma viagem de puro trabalho e pouco prazer. Mas no meio de agenda de milhões de compromissos, consegui encaixar visita à pré-estréia da exposição de artista brasileiro aqui em Oslo. Seu nome é Ernesto Neto, famoso em vários países, e seu trabalho é intrigante, repleto de estímulos sensoriais de todas as formas: você pode tocar, cheirar, sentir. A exposição dele está hoje na maior galeria de arte contemporânea da Noruega. Pena ter que vir à Noruega para conhecer o trabalho de um artista brasileiro que é conhecido mais fora do que dentro do Brasil. Na foto, eu me delicio com uma de suas obras interativas. Para quem quiser saber mais sobre ele, veja o que diz a Wikipedia: Ernesto Neto
4 de julho de 2010
O Perigo de Uma História Única
Uma amiga querida, Dora, me enviou hoje o link para um vídeo da escritora nigeriana Chimamanda Adichi (da qual eu nunca tinha ouvido falar até hoje), em que ela fala sobre o "o perigo de uma história única". São na verdade dois vídeos, de cerca de 10 min cada, e que trazem uma belíssima reflexão sobre como os estereótipos e as imagens que temos das pessoas, dos lugares, das culturas vão se formando. Senti-me feliz pelo comentário de Dora de que o que a escritora fala tem a haver com meu blog, e por isso achei interessante partilhar aqui. A relação que Dora viu foi, provavelmente, a minha constante tentativa - nem sempre bem sucedida - de ver todas as histórias que existem por trás do mundo, das pessoas, dos lugares. Os dois vídeos estão aqui:
Chimamanda Adichi - O Perigo de Uma História Única - Primeira Parte
Chimamanda Adichi - O Perigo de Uma História Única - Segunda Parte
Ao ver os dois vídeos, lembrei-me de uma viagem que fiz ao Equador em 2002. Em um passeio à cidadezinha de Otavalo, onde se localiza um dos mais tradicionais mercados indígenas do Equador (foto à direita), conheci no trajeto um americano de uns 40-50 anos que viajava com sua filha de uns 15 anos. Começamos a conversar sobre viagens e, ao falar que era brasileiro, ele imediatamente começou a discorrer sobre futebol, Pelé, carnaval e meninos de rua ("uma história única"). Contive o meu desconforto até o momento em que, ao falar dos países por onde já viajáramos, ele elogiou o Equador, como um país exótico, e me perguntou qual o lugar mais exótico que eu já havia visitado. Respondi quase imediatamente, não foi pensado, não foi sacanagem, e disse a ele "os Estados Unidos". Ele me olhou com ar pasmo e eu expliquei a ele que o conceito de exótico, no sentido de "esquisito, excêntrico, extravagante" se aplicava, no caso de um brasileiro, mais aos Estados Unidos do que ao Equador e que, portanto, a pergunta era inadequada. Ele pareceu entender e se desculpou pela pergunta. Ficou evidente ali o "perigo de uma história única".
PS. A tempo: não estou aqui reproduzindo a 'história única' de que todos os americanos são tão alienados quanto o meu interlocutor! Conheço vários americanos decentes que sabem enxergar outras histórias além da que lhes ensinaram na televisão e na escola.
Chimamanda Adichi - O Perigo de Uma História Única - Primeira Parte
Chimamanda Adichi - O Perigo de Uma História Única - Segunda Parte
Ao ver os dois vídeos, lembrei-me de uma viagem que fiz ao Equador em 2002. Em um passeio à cidadezinha de Otavalo, onde se localiza um dos mais tradicionais mercados indígenas do Equador (foto à direita), conheci no trajeto um americano de uns 40-50 anos que viajava com sua filha de uns 15 anos. Começamos a conversar sobre viagens e, ao falar que era brasileiro, ele imediatamente começou a discorrer sobre futebol, Pelé, carnaval e meninos de rua ("uma história única"). Contive o meu desconforto até o momento em que, ao falar dos países por onde já viajáramos, ele elogiou o Equador, como um país exótico, e me perguntou qual o lugar mais exótico que eu já havia visitado. Respondi quase imediatamente, não foi pensado, não foi sacanagem, e disse a ele "os Estados Unidos". Ele me olhou com ar pasmo e eu expliquei a ele que o conceito de exótico, no sentido de "esquisito, excêntrico, extravagante" se aplicava, no caso de um brasileiro, mais aos Estados Unidos do que ao Equador e que, portanto, a pergunta era inadequada. Ele pareceu entender e se desculpou pela pergunta. Ficou evidente ali o "perigo de uma história única".
PS. A tempo: não estou aqui reproduzindo a 'história única' de que todos os americanos são tão alienados quanto o meu interlocutor! Conheço vários americanos decentes que sabem enxergar outras histórias além da que lhes ensinaram na televisão e na escola.
31 de janeiro de 2010
"All Inclusive" na Bahia
Por uma opção da família, passei, junto com pais, irmãos e sobrinhos, nove dias em um desses hotéis all inclusive, na Bahia, para celebrar os 80 anos de meu pai e os 55 anos de casados dos velhos. Fazia muito tempo que a família toda não se reunia para algo do tipo e o saldo final foi extremamente generoso para todos: uma dose enorme de carinho, de afeto, de risadas e de trocas.
Para quem não sabe, um hotel all inclusive é aquele que inclui, em seus preços, todas as refeições e bebidas, inclusive alcoólicas, durante 24 horas, oferecendo ainda uma ampla variedade de atividades, esportes e diversões, também incluídas no preço. A primeira vez que ouvi falar nesse tipo de acomodação foi nos resorts do Caribe, mas a moda parece que pegou forte nos grandes hotéis do Nordeste do Brasil. E era uma dessas coisas que eu dizia que “nunca experimentei e nunca gostei”.
Por uma opção pessoal, fui o único da família que optou pela acomodação não inclusive, o que implicou eu pagar pelas despesas de alimentação e bebidas durante minha estadia. No entanto, meus bons propósitos não resistiram à lógica de um hotel all inclusive, porque a única forma de eu escapar dos grandes buffets de comida servidos durante as refeições era pedir à la carte no quarto, longe do resto da turma, o que não fazia muito sentido. Assim, me sobrava a opção de pagar o elevado preço do buffet para comer apenas alguma coisinha mais leve, como era a minha vontade, ou cair na tentação de experimentar um pouquinho da grande variedade de comidas e bebidas apresentadas, sem falar na variada mesa de doces, meu ponto fraco. Ou seja, todo o conceito de all inclusive é formulado para você comer, comer muito. O tempo todo… a toda hora…
Esses hotéis são normalmente construídos distantes dos grandes centros, geralmente em praias remotas. Mas isso não faz muita diferença, pois a maior parte das pessoas não sai de dentro do hotel, nem mesmo para ir à praia (seja por que na praia as comidas e bebidas não estão incluídas ou, se incluídas, demoram mais pra chegar). Mas para que ir a algum lugar? Afinal, comer e beber por 24 horas seguidas te tira o peso de ter que fazer planos para algum outro tipo de atividade. Deve ser por isso que os resorts recomendam que você descanse bem antes da viagem. Eu acreditava que era para aproveitar tudo o que o resort tem a oferecer, mas na verdade é para que o tempo de comer e de encher a cara não seja desnecessariamente reduzido pela necessidade de sono.
Os hóspedes são ‘marcados’ com uma pulseirinha colorida não-removível, que o qualifica a pedir de tudo a qualquer hora. Não é difícil perceber um certo orgulho nos seres que a exibem, como que dotados de um poder maior que os dos pobres mortais que têm que pagar pelo que comem e bebem, como eu, igualmente marcado por uma pulseirinha de outra cor que denota a minha inferioridade. Essa pulseirinha poderosa habilita os seres que a vestem a comer e beber bastante entre as refeições e, depois, nas refeições, comer e beber ainda mais. Não é muito provável que estejam fazendo isso por fome ou por necessidade e confesso não conseguir enxergar muito o sentido de toda essa comilança.
Imagino que, ao contrário de acomodações mais tradicionais, um resort all inclusive não ajuda muito a economia local, a não ser os donos do próprio hotel. Afinal, além de todos os estímulos para ficar dentro do hotel, não há muitos estímulos para sair dele. Esses hotéis estão normalmente muito distantes de tudo e de todos, fazendo com que sair do hotel para conhecer alguma outra coisa seja uma empreitada tão onerosa ou complexa que a opção é mesmo continuar comendo e bebendo em local conhecido, sem precisar pagar adicionalmente por serviços que já foram pagos e incluídos na sua hospedagem, nem se deslocar para nenhum outro lugar mais distante do que a piscina do hotel. Era exatamente isso que acontecia no nosso hotel, onde a maior parte dos hóspedes sequer se dirigia à praia em frente (50 metros), concentrando-se na área ao redor da piscina do hotel.
Ao longo dessa semana, consegui fugir do presídio, digo, do resort, por pelo menos três vezes, para conhecer um pouco da cidade e de outras praias, bem como para experimentar um pouco da gastronomia local (sim, porque se a comida do resort não pode ser descrita como ruim, certamente preza mais a quantidade do que a qualidade, numa terra onde as opções gastronômicas são absolutamente maravilhosas). Nem sempre tive sucesso em convencer companheiros de fuga; afinal a fuga implica despesas que a mera permanência no presídio já elimina.
Resumindo, foi bom porque o objetivo era esse: juntarmos a família toda para uma celebração. Muito provavelmente, a convivência intensa não teria acontecido num cenário onde as opções de passeios e de refeições fossem suficientemente amplas para cada um fazer, comer e beber o que gosta na hora que gosta. Pode até ser que alguma situação bastante particular, seja pelas circunstâncias, seja pelo local, me leve novamente a um hotel all inclusive. Mas definitivamente essa não é a minha praia. Além do que, é forçoso reconhecer que, exceto por algumas pequenas variações, um hotel igualzinho a esse, localizado a 30 km de Brasília, não faria muita diferença. Ok, aqui tem o clima, tem a fantástica vista do mar da varanda onde agora escrevo, mas a considerar o que fiz por aqui, vir ou não vir à Bahia não teria feito muita diferença.
Para quem não sabe, um hotel all inclusive é aquele que inclui, em seus preços, todas as refeições e bebidas, inclusive alcoólicas, durante 24 horas, oferecendo ainda uma ampla variedade de atividades, esportes e diversões, também incluídas no preço. A primeira vez que ouvi falar nesse tipo de acomodação foi nos resorts do Caribe, mas a moda parece que pegou forte nos grandes hotéis do Nordeste do Brasil. E era uma dessas coisas que eu dizia que “nunca experimentei e nunca gostei”.
Por uma opção pessoal, fui o único da família que optou pela acomodação não inclusive, o que implicou eu pagar pelas despesas de alimentação e bebidas durante minha estadia. No entanto, meus bons propósitos não resistiram à lógica de um hotel all inclusive, porque a única forma de eu escapar dos grandes buffets de comida servidos durante as refeições era pedir à la carte no quarto, longe do resto da turma, o que não fazia muito sentido. Assim, me sobrava a opção de pagar o elevado preço do buffet para comer apenas alguma coisinha mais leve, como era a minha vontade, ou cair na tentação de experimentar um pouquinho da grande variedade de comidas e bebidas apresentadas, sem falar na variada mesa de doces, meu ponto fraco. Ou seja, todo o conceito de all inclusive é formulado para você comer, comer muito. O tempo todo… a toda hora…
Esses hotéis são normalmente construídos distantes dos grandes centros, geralmente em praias remotas. Mas isso não faz muita diferença, pois a maior parte das pessoas não sai de dentro do hotel, nem mesmo para ir à praia (seja por que na praia as comidas e bebidas não estão incluídas ou, se incluídas, demoram mais pra chegar). Mas para que ir a algum lugar? Afinal, comer e beber por 24 horas seguidas te tira o peso de ter que fazer planos para algum outro tipo de atividade. Deve ser por isso que os resorts recomendam que você descanse bem antes da viagem. Eu acreditava que era para aproveitar tudo o que o resort tem a oferecer, mas na verdade é para que o tempo de comer e de encher a cara não seja desnecessariamente reduzido pela necessidade de sono.
Os hóspedes são ‘marcados’ com uma pulseirinha colorida não-removível, que o qualifica a pedir de tudo a qualquer hora. Não é difícil perceber um certo orgulho nos seres que a exibem, como que dotados de um poder maior que os dos pobres mortais que têm que pagar pelo que comem e bebem, como eu, igualmente marcado por uma pulseirinha de outra cor que denota a minha inferioridade. Essa pulseirinha poderosa habilita os seres que a vestem a comer e beber bastante entre as refeições e, depois, nas refeições, comer e beber ainda mais. Não é muito provável que estejam fazendo isso por fome ou por necessidade e confesso não conseguir enxergar muito o sentido de toda essa comilança.
Imagino que, ao contrário de acomodações mais tradicionais, um resort all inclusive não ajuda muito a economia local, a não ser os donos do próprio hotel. Afinal, além de todos os estímulos para ficar dentro do hotel, não há muitos estímulos para sair dele. Esses hotéis estão normalmente muito distantes de tudo e de todos, fazendo com que sair do hotel para conhecer alguma outra coisa seja uma empreitada tão onerosa ou complexa que a opção é mesmo continuar comendo e bebendo em local conhecido, sem precisar pagar adicionalmente por serviços que já foram pagos e incluídos na sua hospedagem, nem se deslocar para nenhum outro lugar mais distante do que a piscina do hotel. Era exatamente isso que acontecia no nosso hotel, onde a maior parte dos hóspedes sequer se dirigia à praia em frente (50 metros), concentrando-se na área ao redor da piscina do hotel.
Ao longo dessa semana, consegui fugir do presídio, digo, do resort, por pelo menos três vezes, para conhecer um pouco da cidade e de outras praias, bem como para experimentar um pouco da gastronomia local (sim, porque se a comida do resort não pode ser descrita como ruim, certamente preza mais a quantidade do que a qualidade, numa terra onde as opções gastronômicas são absolutamente maravilhosas). Nem sempre tive sucesso em convencer companheiros de fuga; afinal a fuga implica despesas que a mera permanência no presídio já elimina.
Resumindo, foi bom porque o objetivo era esse: juntarmos a família toda para uma celebração. Muito provavelmente, a convivência intensa não teria acontecido num cenário onde as opções de passeios e de refeições fossem suficientemente amplas para cada um fazer, comer e beber o que gosta na hora que gosta. Pode até ser que alguma situação bastante particular, seja pelas circunstâncias, seja pelo local, me leve novamente a um hotel all inclusive. Mas definitivamente essa não é a minha praia. Além do que, é forçoso reconhecer que, exceto por algumas pequenas variações, um hotel igualzinho a esse, localizado a 30 km de Brasília, não faria muita diferença. Ok, aqui tem o clima, tem a fantástica vista do mar da varanda onde agora escrevo, mas a considerar o que fiz por aqui, vir ou não vir à Bahia não teria feito muita diferença.
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