18 de agosto, acabo de chegar de um delicioso jantar pós dia de trabalho, em que saboreei um belo vinho na companhia de alguns colegas de trabalho. Não era o motivo, eu até preferia que ninguém soubesse, mas o jantar terminou sendo também uma celebração de meu aniversário. Vários dos presentes não comporiam uma lista pequena de convidados para uma celebração, de forma que vi o jantar mais como uma refeição qualquer num dia de trabalho qualquer numa viagem a serviço qualquer, do que como celebração propriamente dita.
Mais uma viagem e não é porque é meu aniversário que ela me incomoda. É apenas mais uma no meio de tantas que já aconteceram neste ano e das muitas que ainda vão acontecer. Serão ainda muitas horas de vôo, de aeroporto, de arrumação de mala, de hotel. Enquanto olhava o mar pela janela, neste fim de noite, a sensação de impessoalidade de que se revestem essas viagens me fez lembrar do ótimo filme Encontros e Desencontros, que fala dessa sensação de estranhamento num outro país (Japão). Me senti como aquele personagem do Bill Murray, e me lembrei daquela antológica cena onde ele se senta na cama do hotel, olhar perdido, tentando encontrar-se em algum ponto perdido no horizonte. A foto dessa cena, anexa, poderia ter sido tirada de mim agora.
A sensação de que participo de uma reunião que, a rigor, poderia realizar-se em qualquer lugar, sem que isso fizesse diferença, é muito estranha. Os hotéis são todos parecidos, as camas, os banheiros, o café da manhã. As reuniões se realizam em lugares semelhantes, as refeições são cada vez mais “globalizadas”. As viagens se assemelham em tudo que têm de ruim, o mesmo atendimento ruim em todas as companhias, as filas para o check in, para o raio x, para a migração, para entrar no avião, para sair do avião, para a migração novamente,para pegar as malas (se elas chegarem!), para a alfândega, para o táxi, para o check in no hotel.
O nível de individuação das pessoas com que encontro é cada vez menor, é um ambiente onde todos falam as mesmas línguas, conversam os mesmos assuntos, discutem sobre os mesmos temas, usam as mesmas roupas. Será tão medíocre assim o resultado da globalização? Busco não perder, nunca, meu olhar para as diferenças. As diferenças de povos, línguas, culturas, comidas, música, trajes, artesanato, tudo isso é - ainda - diferente de um lugar para o outro e, sempre que possível, me deleito em ver essas diferenças. Mas descobri que isso é infinitamente mais fácil numa viagem de prazer do que numa viagem de trabalho.
Nessas viagens a trabalho, as diferenças são cada vez menores. Principalmente porque não sobra tempo para ver as diferenças que efetivamente fazem a diferença. Aqui em Montevidéu por exemplo. Três dias de reunião e não conversei ainda, de verdade, com um só uruguaio, a não ser em salas de trabalho. Não vi nada que possa dizer ser tipicamente uruguaio, sua vida, seus costumes, sua música, sua comida. Nada que me diga, de maneira categoria e inconfundível, que estou em Montevidéu e não em Buenos Aires ou Assunção. O hotel, o local das reuniões, as pessoas que delas participam, as refeições, tudo acontece aqui, mas podia ser em Brasília, sem que ninguém notasse a diferença.
A noite é sempre a minha grande esperança. De sair, ver algo novo, conhecer um bairro típico, uma comida tradicional, ver gente local. Mas nem isso é sempre possível. Uma vez é a preguiça e o cansaço, outra vez é um jantar de trabalho, outra vez é a conciliação com os colegas de trabalho, e com freqüência me vejo simplesmente jantando, num lugar qualquer, igual a outro qualquer.
Tá bom, acho que exagerei. Deve ser mesmo o tal do aniversário que, por menos importância que lhe dê, acaba trazendo essa aura de reflexão existencialista todos os anos. E eu que sempre achei viajar o grande prazer da vida, me vejo assim reclamando. É tudo isso que falei, sim, mas há ganhos também. Tenho aprendido muito, conhecido gente, crescido profissionalmente. Em alguns casos (poucos) dá até prá pensar que eu faço alguma diferença por estar ou não estar num determinado lugar. Nesses poucos casos, o prazer é maior.
Hora de dormir... o importante é nunca me perder de mim mesmo... o importante é promover um processo de individuação permanente em mim mesmo... tudo pode ser igual, mas enquanto eu for eu mesmo, ainda há esperança. Como diria o Leminski, “Essa mania de a gente ser exatamente como a gente é ainda vai nos levar mais além”.
Mais uma viagem e não é porque é meu aniversário que ela me incomoda. É apenas mais uma no meio de tantas que já aconteceram neste ano e das muitas que ainda vão acontecer. Serão ainda muitas horas de vôo, de aeroporto, de arrumação de mala, de hotel. Enquanto olhava o mar pela janela, neste fim de noite, a sensação de impessoalidade de que se revestem essas viagens me fez lembrar do ótimo filme Encontros e Desencontros, que fala dessa sensação de estranhamento num outro país (Japão). Me senti como aquele personagem do Bill Murray, e me lembrei daquela antológica cena onde ele se senta na cama do hotel, olhar perdido, tentando encontrar-se em algum ponto perdido no horizonte. A foto dessa cena, anexa, poderia ter sido tirada de mim agora.
A sensação de que participo de uma reunião que, a rigor, poderia realizar-se em qualquer lugar, sem que isso fizesse diferença, é muito estranha. Os hotéis são todos parecidos, as camas, os banheiros, o café da manhã. As reuniões se realizam em lugares semelhantes, as refeições são cada vez mais “globalizadas”. As viagens se assemelham em tudo que têm de ruim, o mesmo atendimento ruim em todas as companhias, as filas para o check in, para o raio x, para a migração, para entrar no avião, para sair do avião, para a migração novamente,para pegar as malas (se elas chegarem!), para a alfândega, para o táxi, para o check in no hotel.
O nível de individuação das pessoas com que encontro é cada vez menor, é um ambiente onde todos falam as mesmas línguas, conversam os mesmos assuntos, discutem sobre os mesmos temas, usam as mesmas roupas. Será tão medíocre assim o resultado da globalização? Busco não perder, nunca, meu olhar para as diferenças. As diferenças de povos, línguas, culturas, comidas, música, trajes, artesanato, tudo isso é - ainda - diferente de um lugar para o outro e, sempre que possível, me deleito em ver essas diferenças. Mas descobri que isso é infinitamente mais fácil numa viagem de prazer do que numa viagem de trabalho.
Nessas viagens a trabalho, as diferenças são cada vez menores. Principalmente porque não sobra tempo para ver as diferenças que efetivamente fazem a diferença. Aqui em Montevidéu por exemplo. Três dias de reunião e não conversei ainda, de verdade, com um só uruguaio, a não ser em salas de trabalho. Não vi nada que possa dizer ser tipicamente uruguaio, sua vida, seus costumes, sua música, sua comida. Nada que me diga, de maneira categoria e inconfundível, que estou em Montevidéu e não em Buenos Aires ou Assunção. O hotel, o local das reuniões, as pessoas que delas participam, as refeições, tudo acontece aqui, mas podia ser em Brasília, sem que ninguém notasse a diferença.
A noite é sempre a minha grande esperança. De sair, ver algo novo, conhecer um bairro típico, uma comida tradicional, ver gente local. Mas nem isso é sempre possível. Uma vez é a preguiça e o cansaço, outra vez é um jantar de trabalho, outra vez é a conciliação com os colegas de trabalho, e com freqüência me vejo simplesmente jantando, num lugar qualquer, igual a outro qualquer.
Tá bom, acho que exagerei. Deve ser mesmo o tal do aniversário que, por menos importância que lhe dê, acaba trazendo essa aura de reflexão existencialista todos os anos. E eu que sempre achei viajar o grande prazer da vida, me vejo assim reclamando. É tudo isso que falei, sim, mas há ganhos também. Tenho aprendido muito, conhecido gente, crescido profissionalmente. Em alguns casos (poucos) dá até prá pensar que eu faço alguma diferença por estar ou não estar num determinado lugar. Nesses poucos casos, o prazer é maior.
Hora de dormir... o importante é nunca me perder de mim mesmo... o importante é promover um processo de individuação permanente em mim mesmo... tudo pode ser igual, mas enquanto eu for eu mesmo, ainda há esperança. Como diria o Leminski, “Essa mania de a gente ser exatamente como a gente é ainda vai nos levar mais além”.
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