Gente, muita gente... |
1) Os vietnamitas. Como é comum nos países da Ásia, o Vietnam tem muita gente. A densidade populacional do país é 10 vezes maior do que no Brasil. É muita gente, muita gente mesmo. E embora haja grandes variações de perfil nos vietnamitas de norte a sul, incluindo as minorias étnicas, o povo de maneira geral é encantador. São gentis, educados, atenciosos e carregam sempre um sorriso que parece absolutamente genuíno. Em alguns locais mais simples, hotéis ou restaurantes, o serviço deixa a desejar, por mera falta de treinamento, mas são todos tão agradáveis que é impossível se aborrecer. Lingua, costumes, hábitos, preferências, tudo é muito diferente, mas nada chega a ser obstáculo. Nas regiões de minorias étnicas que tive oportunidade de conhecer, as diferenças são maiores mas a gentileza não é menor. Ali, percebe-se, ainda que sem entender muito, um conjunto de práticas, costumes, relações familiares e sociais bastante próprias. Em alguns desses lugares, menos frequentados por turistas, ocidentais ainda são curiosidade. Especialmente para as lindas e encantadoras crianças vietnamitas. Não foi por acaso que Angelina Jolie visitou o país e decidiu adotar uma criança. São cativantes, risonhas, desarmadas e absolutamente não contaminadas por essa perversa faceta do turismo de massa nos países pobres que transforma cada criança em pedinte profissional. Delícia interagir com elas.
Sempre crianças... |
Pedir o que? |
2) A língua. Como fácil imaginar, o vietnamita e o grego são muito semelhantes em seu alfabeto ilegível, suas palavras incompreensíveis e sua pronúncia irrepetível. Desisti de tentar ir além do trivial. O inglês, por sua vez, é pouco falado na maior parte dos lugares, exceto em alguns hotéis, lojas e restaurantes um pouquinho acima da média. A comunicação não é sempre fácil. Me aborreci um pouquinho com isso apenas até o momento em que me dei conta de que é mais fácil um turista se comunicar em inglês no Vietnam do que no Brasil. Continuamos sendo o país do futuro no turismo. As dificuldades no Vietnam eram facilmente vencidas com um misto de boa vontade, gestos, sorrisos, cardápios traduzidos em inglês, alguns com fotos dos pratos, e o apoio inestimável da tecnologia que possibilita a qualquer celular se transformar num tradutor instantâneo ou buscar fotos e imagens do que se quer comunicar. A maior - e mais divertida - dificuldade foi num restaurante em que o cardápio não existia em inglês, não havia fotos e os atendentes falavam inglês pra lá de precário. Mas não deu pra passar fome.

Saúde pública? o que é isso? |
4) Comida. Embora bastante diferente da brasileira, a comida não chega a assustar (exceto por um pratinho de grilos fritos que me ofereceram num ponto da viagem ;-). Muito arroz, macarrão, sopas, legumes e verduras. As frituras predominam. Ao contrário de países como Índia e Tailândia, o “picante” chili vietnamita é bem aceitável pro gosto brasileiro. Duas coisas que adoro, gengibre e capim limão, estão presentes em muitos dos pratos do Vietnam. Há também muitas frutas, conhecidas e exóticas. Mas o que chama mesmo atenção nesse capítulo é a comida de rua. Nas ruas, calçadas, mercados, todos os tipos de comida são possíveis de serem apreciadas, cheiradas, experimentadas. Elas podem parecer cheirosas ou convidativas de acordo com o olhar, fome, gula ou padrão de higiene do freguês. Houve momentos em que fiquei seriamente tentado a experimentar alguma dessas iguarias mas minha mãezinha, lá de cima, me beliscava e acabei resistindo, algumas vezes com água na boca. Vendo o que acontece na rua, o melhor é não pensar no que acontece dentro das cozinhas fora do alcance da vista. As calçadas, quando não ocupadas por motocicletas estacionadas ou em trânsito, servem como extensão de algumas biroscas bem estabelecidas, seja para funcionar como cozinha, para lavar as louças ou, principalmente, para os fregueses se sentarem em banquinhos e mesas de tamanho infantil. No Vietnam, calçadas são lugares raramente ocupados por pedestres.
A melhor parte do grilo frito é o molho ;-) |
6) Massagens. As massagens asiáticas e orientais são uma tradição cultural na qual o Vietnam não fica atrás. Embora essas massagens sejam vistas com certa desconfiança no Brasil, especialmente devido à fama das massagens com “final feliz” em alguns estabelecimentos da Tailândia (a famosa “massagem tailandesa”), tive ótimas experiências com massagens no Vietnam. Movido pelo meu gosto pela massagem e pelos apelos da minha coluna bichada, tive uma massagem em quase todas cidades que visitei, em algumas mais de uma vez. Procurei sempre me informar sobre a qualidade dos locais em que ia e a única oferta de “final feliz” - não aceita - que recebi foi no spa do próprio hotel em que estava, depois de encontrar fechado o local recomendado que eu procurava. Recebi massagens altamente profissionais e eficientes, em ambientes limpos, agradáveis, precedidas e sucedidas por um delicioso chá, pela bagatela média de U$ 20, algumas bem menos do que isso. Me senti inseguro com algumas manobras que me viravam do avesso ou quando sentia aqueles delicados pezinhos caminhando sobre as minhas costas, mas felizmente sem consequências que não a absoluta sensação de leveza depois das massagens. Os “spas” (ou o que eles assim chamam) abundam em todas as cidades, a cada esquina, com preços ainda mais baratos (U$ 10 era comum) mas evitei entrar em frias. Mas com uma massagem a U$ 10, não surpreende mesmo que, tanto para alguns ocidentais que recebem quanto para algumas vietnamitas que fazem a massagem, seja tentadora a opção de “serviços extras”. Para eles, esse dinheiro adicional vale muito pouco. Para elas, é muito mais do que a pequena margem do preço da massagem que lhes é oferecida pelo spa.
7) Dinheiro e custos. É fácil se sentir um milionário no Vietnam. Pra começar não existem moedas, a nota mais baixa é de 1000 dongs (cerca de R$ 0,15) e a mais alta de 500.000 dongs (cerca de R$ 70,00). Bastava assim sacar algum dinheiro no caixa para eu estar milionário. No começo foi difícil me acostumar a esses números tão altos. Depois, fui pegando as manhas, tendo noção de preços e de valores das coisas. De maneira geral, tudo é muito barato no Vietnam. As vezes ridiculamente barato, tanto para serviços quanto para produtos, e você se pergunta como isso é possível. Uma boa refeição por R$ 20 era comum. Hotéis adequados - 3 estrelas - por R$ 100-150, alguns deles charmosos e excelentes em serviços e infraestrutura. Esses preços subiam em lugares mais turísticos ou nas duas cidades grandes, Ho Chi Minh (Saigon) e Hanoi, mas quando eu me via reclamando que o preço de uma latinha de cerveja que comprei por 20.000 dongs estava por 40.000, me dava conta de que ao invés de 3 reais, estavam me cobrando 6 reais, e isso num lugar considerado caro. Ou quando reclamei da massagem por U$ 25 num lugar mais chique até me dar conta de que estava pagando R$ 80 por uma excelente massagem num local top. Enfim, muito barato viajar no Vietnam. Paga facilmente o custo da passagem.
![]() |
Nike, North Face, Mizuno... todas as "boas marcas! |
8) Compras. A ideia de propriedade de marca ou de direito autoral não chegou ainda ao Vietnam (como seria de se esperar em um país que faz fronteira com a China e que esteve por muitos anos sob domínio chinês). Em qualquer loja você pode comprar roupas, relógios, óculos e eletrônicos de marcas famosas por um décimo do preço que pagaria no Brasil. Em alguns casos, as imitações são assustadoramente semelhantes e de qualidade bem superior ao que você esperaria encontrar num produto desse. Algumas lojas chegam à ironia de chamar de “original” uma cópia feita com qualidade e de “similar” a cópia mal feita (a “genérica”, na nossa linguagem). O artesanato, nas ruas e mercados, como se tornou comum no mundo inteiro, parece sempre o mesmo. Aqui, não tem milagre: você leva o que paga em termos de qualidade, durabilidade e origem. Mas procurando e se informando bem, descobrem-se marcas locais vietnamitas que oferecem produtos, roupas e artesanato, de boa qualidade, geralmente associadas a organizações que promovem princípios de “comércio justo”, onde boa parte dos lucros vai para as comunidades ou para os próprios artesãos. Isso acontece particularmente com as minorias étnicas, que são muitas no Vietnam, ou com cooperativas de pessoas com algum tipo de deficiência (também muitas no Vietnam). Os preços são um pouquinho maiores do que você encontra na rua ou nos mercados, mas vale a sensação de comprar uma peça diferenciada, com mais qualidade e cuja receita vai ser melhor dirigida do que se fosse para grandes falsificadores ou produtores de artesanato de massa.
