19 de dezembro de 2009

Fim de Festa


Já não restam muitos convidados para a festa. Os mais interessantes já foram embora. Do lado de fora, os não convidados e os que foram convidados e não conseguiram entrar também já foram embora. Sobraram poucos: os que não podem ir por consideração aos donos da casa, os chatos, os bêbados e os alegres. Chatos, bêbados e alegres adoram qualquer festa, encontram-se, conversam entre si, sequer percebem o que não funcionou ou o que aconteceu na festa, e não desconfiam que esteja na hora de ir embora e que os donos da casa já querem dormir. Mas a festa não deu certo, o som falhou, a música ao vivo desafinou, as luzes queimaram, a comida tava ruim, alguns convidados não puderam entrar, os convidados mais esperados vieram mas se comportaram mal e o gran finale tão esperado não aconteceu. Depois de preparada por dois anos, a festa sequer teve o programado registro fotográfico dos convidados ao seu final. Os espertos saíram antes da hora, quando viram a festa afundar, quando viram que não ia rolar. Ficaram os amigos dos donos, os que acreditaram até o fim que a festa podia melhorar, que a foto ia rolar e que, exaustos, tentavam, como um exército de brancaleones, ao mesmo tempo cantar, consertar a iluminação, preparar e servir a comida, comprar mais bebidas no bar da esquina, alegrar e animar os convidados restantes, como se com isso conseguissem minimizar o mal comportamento dos convidados principais que estragaram a festa.

Copenhagen, Dinamarca, 20 de dezembro de 2009, 2h00 da manhã, 15ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Fim de festa. Sobraram frustração, desapontamento e decepção. O mundo inteiro estava de olho no que acontecia aqui. Nunca antes na história da humanidade um tema científico despertou tanta atenção de governantes, de políticos, da mídia internacional e de cidadãos comuns. Nunca antes uma Conferência desse tipo mobilizou tantos participantes, foi assunto de tantas conversas, preocupando igualmente os que dele entendiam e os que não entendiam. Foram mais de 115 Chefes de Estado/Governo, 40000 participantes registrados, governamentais e não-governamentais, 5000 jornalistas. Uma logística sem precedentes. Uma expectativa à altura da quantidade de participantes, da estatura dos líderes mundiais presentes e, principalmente, da importância do tema para o futuro da humanidade. O resultado final, contudo, foi muito pior do que as minhas baixíssimas expectativas poderiam imaginar: uma grande demonstração coletiva de desprezo pelas atuais e futuras gerações da humanidade. Mas o show deve continuar... enquanto houver show... enquanto houver artistas, palhaços e macacos... e enquanto houver platéia.

13 de dezembro de 2009

As Prostitutas de Copenhagen


Na Dinamarca eles têm um sindicato das prostitutas. Não, eu não estou brincando, as prostitutas aqui são sindicalizadas. E a Dinamarca tem também, como em qualquer outro país, políticos que gostam de se auto-promover às custas de grupos como as prostitutas, como forma de fazê-los parecerem melhores para o público.

Foi assim que a prefeita de Copenhagen decidiu aproveitar a Conferência do Clima para aparecer, alertando os quase 40000 visitantes que a cidade recebeu nesse período para não utilizarem as profissionais do sexo. Ela chegou ao ponto de imprimir cartões postais e enviá-los para cerca de 160 hotéis da cidade apelando aos delegados da Conferência “seja sustentável – não compre sexo”. Não entendi exatamente o que faz com que pagar por sexo seja pouco ecológico… talvez sejam as camisinhas usadas no ato ou a quantidade extra de CO2 emitida durante o ato? Essa parte a prefeita não explicou bem…

Naturalmente, essa iniciativa não foi muito bem recebida pela indústria do sexo, de forma que elas decidiram retaliar. E a forma de retaliação não poderia ser mais original. Elas simplesmente anunciaram que todos os delegados da Conferência que apresentassem o cartão da prefeita junto com o crachá da Conferência teriam sexo grátis. Nessa, a prefeita ‘sifu’…

Como a prostituição é legal no país, o protesto do sindicato considerou a iniciativa da prefeita uma forma de preconceito, num país que zela muito pela imagem de “politicamente correto”. Além disso, o protesto toca também numa ferida local que escapou às discussões, que é a noção de que os visitantes estrangeiros é que fazem a alegria dos prostíbulos. Segundo a representante do sindicato da prostitutas, essa noção é errada: “a grande maioria do nosso público é local”.

Não há dados divulgados sobre o sucesso ou não do protesto. E, finalmente, só pra deixar claro, eu não cheguei a usar a promoção ;-)