Já não restam muitos convidados para a festa. Os mais interessantes já foram embora. Do lado de fora, os não convidados e os que foram convidados e não conseguiram entrar também já foram embora. Sobraram poucos: os que não podem ir por consideração aos donos da casa, os chatos, os bêbados e os alegres. Chatos, bêbados e alegres adoram qualquer festa, encontram-se, conversam entre si, sequer percebem o que não funcionou ou o que aconteceu na festa, e não desconfiam que esteja na hora de ir embora e que os donos da casa já querem dormir. Mas a festa não deu certo, o som falhou, a música ao vivo desafinou, as luzes queimaram, a comida tava ruim, alguns convidados não puderam entrar, os convidados mais esperados vieram mas se comportaram mal e o gran finale tão esperado não aconteceu. Depois de preparada por dois anos, a festa sequer teve o programado registro fotográfico dos convidados ao seu final. Os espertos saíram antes da hora, quando viram a festa afundar, quando viram que não ia rolar. Ficaram os amigos dos donos, os que acreditaram até o fim que a festa podia melhorar, que a foto ia rolar e que, exaustos, tentavam, como um exército de brancaleones, ao mesmo tempo cantar, consertar a iluminação, preparar e servir a comida, comprar mais bebidas no bar da esquina, alegrar e animar os convidados restantes, como se com isso conseguissem minimizar o mal comportamento dos convidados principais que estragaram a festa.
Copenhagen, Dinamarca, 20 de dezembro de 2009, 2h00 da manhã, 15ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Fim de festa. Sobraram frustração, desapontamento e decepção. O mundo inteiro estava de olho no que acontecia aqui. Nunca antes na história da humanidade um tema científico despertou tanta atenção de governantes, de políticos, da mídia internacional e de cidadãos comuns. Nunca antes uma Conferência desse tipo mobilizou tantos participantes, foi assunto de tantas conversas, preocupando igualmente os que dele entendiam e os que não entendiam. Foram mais de 115 Chefes de Estado/Governo, 40000 participantes registrados, governamentais e não-governamentais, 5000 jornalistas. Uma logística sem precedentes. Uma expectativa à altura da quantidade de participantes, da estatura dos líderes mundiais presentes e, principalmente, da importância do tema para o futuro da humanidade. O resultado final, contudo, foi muito pior do que as minhas baixíssimas expectativas poderiam imaginar: uma grande demonstração coletiva de desprezo pelas atuais e futuras gerações da humanidade. Mas o show deve continuar... enquanto houver show... enquanto houver artistas, palhaços e macacos... e enquanto houver platéia.
19 de dezembro de 2009
13 de dezembro de 2009
As Prostitutas de Copenhagen
Na Dinamarca eles têm um sindicato das prostitutas. Não, eu não estou brincando, as prostitutas aqui são sindicalizadas. E a Dinamarca tem também, como em qualquer outro país, políticos que gostam de se auto-promover às custas de grupos como as prostitutas, como forma de fazê-los parecerem melhores para o público.
Foi assim que a prefeita de Copenhagen decidiu aproveitar a Conferência do Clima para aparecer, alertando os quase 40000 visitantes que a cidade recebeu nesse período para não utilizarem as profissionais do sexo. Ela chegou ao ponto de imprimir cartões postais e enviá-los para cerca de 160 hotéis da cidade apelando aos delegados da Conferência “seja sustentável – não compre sexo”. Não entendi exatamente o que faz com que pagar por sexo seja pouco ecológico… talvez sejam as camisinhas usadas no ato ou a quantidade extra de CO2 emitida durante o ato? Essa parte a prefeita não explicou bem…
Naturalmente, essa iniciativa não foi muito bem recebida pela indústria do sexo, de forma que elas decidiram retaliar. E a forma de retaliação não poderia ser mais original. Elas simplesmente anunciaram que todos os delegados da Conferência que apresentassem o cartão da prefeita junto com o crachá da Conferência teriam sexo grátis. Nessa, a prefeita ‘sifu’…
Como a prostituição é legal no país, o protesto do sindicato considerou a iniciativa da prefeita uma forma de preconceito, num país que zela muito pela imagem de “politicamente correto”. Além disso, o protesto toca também numa ferida local que escapou às discussões, que é a noção de que os visitantes estrangeiros é que fazem a alegria dos prostíbulos. Segundo a representante do sindicato da prostitutas, essa noção é errada: “a grande maioria do nosso público é local”.
Não há dados divulgados sobre o sucesso ou não do protesto. E, finalmente, só pra deixar claro, eu não cheguei a usar a promoção ;-)
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